FELIZ
I
Ontem fiz tua carícia, ainda te fiz
Ontem o fiel carinho de um verso.
Impus-me a buscar-te o sol, o universo
Das manhãs — num dom de aprendiz.
Adormeci, ontem, no leito de Olimpo,
Na arena do Vento, para te acalmar e pôr
Um beijo inventivo e passar o caso a limpo
— Consagrar o retoque desse motim de amor.
Como poderia adormecer cheio de dedos
Antes de confessar um cálice aguardente?
Um ano me guarda comedido e, silente,
Sustento a cruz de um amor e um segredo!
II
Bem vi, quando te vi, a rebelião da atmosfera,
Uma passagem para fora do planeta...
— Era a mulher, mero anjo, meiga ninfeta
A cantar por mim um mimo de primavera.
Aparência de mulher, meu faz-de-conta,
Virando pelo avesso afetos entorpecidos,
Remexendo os desejos tão mais remexidos
Num homem habituado à vida pronta.
Mulher, casualmente: sutil, anunciada,
Manequim exposto na primeira esquina.
Deusa severa, catedral em ruína,
Sem o pecado de um golpe de espada.
Eu bem vi quando fechou o temporal
E o céu, denso, avisou da tempestade.
Destroçara-se minha rocha de tranqüilidade
Sob os olhos da mulher e o vendaval.
III
Ontem, fiz o carinho do meu verso:
Na carícia imaginária, quase te fiz
O meu amor, meu segredo confesso...
— Manhã comum, hoje, de brisa e abrigo,
E eu ainda me desperto solitário e prossigo,
Ardiloso, sorrindo o ritual de acordar feliz!
I
Ontem fiz tua carícia, ainda te fiz
Ontem o fiel carinho de um verso.
Impus-me a buscar-te o sol, o universo
Das manhãs — num dom de aprendiz.
Adormeci, ontem, no leito de Olimpo,
Na arena do Vento, para te acalmar e pôr
Um beijo inventivo e passar o caso a limpo
— Consagrar o retoque desse motim de amor.
Como poderia adormecer cheio de dedos
Antes de confessar um cálice aguardente?
Um ano me guarda comedido e, silente,
Sustento a cruz de um amor e um segredo!
II
Bem vi, quando te vi, a rebelião da atmosfera,
Uma passagem para fora do planeta...
— Era a mulher, mero anjo, meiga ninfeta
A cantar por mim um mimo de primavera.
Aparência de mulher, meu faz-de-conta,
Virando pelo avesso afetos entorpecidos,
Remexendo os desejos tão mais remexidos
Num homem habituado à vida pronta.
Mulher, casualmente: sutil, anunciada,
Manequim exposto na primeira esquina.
Deusa severa, catedral em ruína,
Sem o pecado de um golpe de espada.
Eu bem vi quando fechou o temporal
E o céu, denso, avisou da tempestade.
Destroçara-se minha rocha de tranqüilidade
Sob os olhos da mulher e o vendaval.
III
Ontem, fiz o carinho do meu verso:
Na carícia imaginária, quase te fiz
O meu amor, meu segredo confesso...
— Manhã comum, hoje, de brisa e abrigo,
E eu ainda me desperto solitário e prossigo,
Ardiloso, sorrindo o ritual de acordar feliz!