estranhamente abstrato
a complexa notoriedade da tua beleza
provocou a exasperação da minha sutileza,
que de repente ficou de pernas pro ar,
quis até levitar,
se esqueceu da gravidade
mas se fosse só isso – o plano físico,
a curva discreta do nariz,
a linha simétrica do queixo,
a suavidade dos ombros...
havia ainda o jeito de olhar,
o que é preponderante porque diz tudo,
modela a boca quando ela se mexe,
é o que dá a graça que tem o cabelo
quando invade a testa, é o aceno,
que pode ser um convite ou o contrário,
é um raio...
e as considerações que faz o inconsciente
não podem ter amparo na plástica,
no físico, na matéria
são produto do nada,
do estranhamente abstrato
por isso é que no meu trato
com você, sou ingrato
ao te perceber morena,
mas grato ao te reconhecer
mulher