estranhamente abstrato

a complexa notoriedade da tua beleza

provocou a exasperação da minha sutileza,

que de repente ficou de pernas pro ar,

quis até levitar,

se esqueceu da gravidade

mas se fosse só isso – o plano físico,

a curva discreta do nariz,

a linha simétrica do queixo,

a suavidade dos ombros...

havia ainda o jeito de olhar,

o que é preponderante porque diz tudo,

modela a boca quando ela se mexe,

é o que dá a graça que tem o cabelo

quando invade a testa, é o aceno,

que pode ser um convite ou o contrário,

é um raio...

e as considerações que faz o inconsciente

não podem ter amparo na plástica,

no físico, na matéria

são produto do nada,

do estranhamente abstrato

por isso é que no meu trato

com você, sou ingrato

ao te perceber morena,

mas grato ao te reconhecer

mulher

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 10/11/2011
Código do texto: T3327608
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