CREPÚSCULO
A percepção de que tu não és a mesma chegou-me com o crepúsculo,
Considerei a natureza à beira do caminho,
Quando percorri a estrada rumo ao meu destino.
Ao retornar, após o momento, nada permanecia o mesmo:
O farfalhar das folhas sacudidas pelo vento,
Os carcarás altivos e desapiedados em busca de alimento,
O cheiro da brisa na manhã, as montanhas ao longe, o Vale.
As nuvens já não queriam chover;
O calor do sol matutino transformou-se em calmaria,
O frio ameno, na caída da noite, acariciou minha alma.
Entendi, então, que mudaste junto com a natureza,
transmutada pelo tempo errante,
Ao buscar-te, em meu pensamento, encontrei-a no devir,
E, só então, compreendi por que corres tanto,
No mundo sensível, onde tudo muda continua e eternamente,
A ação frenética em ti persegue o novo Eu do instante a se renovar.
Por outro lado, o evento de percepção em que nossos corpos
encontraram-se e perceberam nossa alma
(Há somente uma alma em nós dois)
Permanece imutável, infinito e belo,
Mergulhaste em um oceano inteligível em mim,
Não em um rio que corre em meio a floresta,
Onde as águas, passado o instante, já não são as mesmas.
O tempo passa inexorável e, às vezes, lentamente.
Contudo, a saudade e o vazio deixado por tua ausência
Continuam a ocupar um espaço imensurável em mim...
Renúncia...
Por Diógenes Jacó de Souza, Araripina, outubro de 2011.