Olhos negros

Quando por fim me olhastes,

olhos negros, que contraste,

da luz à escuridão.

Num negro pus-me a vagar,

em teu mundo penetrar,

conhecer tua amplidão.

Olhos negros, oh que me fascinam,

Viso das aves que rapinam,

me faz presa tua.

Oh pássaro de garboso porte,

Tuas garras, teu bico forte

fizeram minha fronte nua.

Dormita, oh deusa em meu peito,

faz do meu corpo teu leito

e rias do meu torpe falar.

Ergues a plumagem que empenhas

No peito. O mar que desenhas,

A morte que ousas embalar.

E pensa em cores vertentes,

e gritas em tons trementes,

que o vento decerto responde.

E o eco que traz o retruco

das vozes mandadas do eunuco

que ouve trazido do não-sei-onde.

Cantem, bardos do mundo!

Sim, camtem louvor profundo,

a beleza dos olhos mais belos.

E vinde de norte e do sul

cantar hinos ao lindo azul

em que os olhos negros tornou o amarelo.

Deusa, que meus sonhos seduz...

Diana de tempos sem luz...

Negra, como os toldos olhos...

És rainha das selvas sombrias,

és a luz dos meus negros dias,

dias negros, mar de escolhos.

E agora preso que estou

nas noites dos teus olhos vou

Entregar-me a indomável fera.

E preso cada vez mais ser,

cativo mais viver

Em ti morar, negros olhos, quem dera?

Zezinho França

Zezinho França
Enviado por Zezinho França em 05/11/2011
Código do texto: T3319211