Olhos negros
Quando por fim me olhastes,
olhos negros, que contraste,
da luz à escuridão.
Num negro pus-me a vagar,
em teu mundo penetrar,
conhecer tua amplidão.
Olhos negros, oh que me fascinam,
Viso das aves que rapinam,
me faz presa tua.
Oh pássaro de garboso porte,
Tuas garras, teu bico forte
fizeram minha fronte nua.
Dormita, oh deusa em meu peito,
faz do meu corpo teu leito
e rias do meu torpe falar.
Ergues a plumagem que empenhas
No peito. O mar que desenhas,
A morte que ousas embalar.
E pensa em cores vertentes,
e gritas em tons trementes,
que o vento decerto responde.
E o eco que traz o retruco
das vozes mandadas do eunuco
que ouve trazido do não-sei-onde.
Cantem, bardos do mundo!
Sim, camtem louvor profundo,
a beleza dos olhos mais belos.
E vinde de norte e do sul
cantar hinos ao lindo azul
em que os olhos negros tornou o amarelo.
Deusa, que meus sonhos seduz...
Diana de tempos sem luz...
Negra, como os toldos olhos...
És rainha das selvas sombrias,
és a luz dos meus negros dias,
dias negros, mar de escolhos.
E agora preso que estou
nas noites dos teus olhos vou
Entregar-me a indomável fera.
E preso cada vez mais ser,
cativo mais viver
Em ti morar, negros olhos, quem dera?
Zezinho França