Para o Sexo a Expirar

Para o sexo a expirar eu me volto, expirante,

raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo.

Amor, amor, amor — o braseiro radiante

que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.

Pobre carne senil, vibrando insatisfeita,

a minha se rebela ante a morte anunciada.

Quero sempre invadir essa vereda estreita

onde o gozo maior me propicia a amada.

Amanhã, nunca mais. Hoje mesmo quem sabe?

enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer

antes que, deliciosa, a exploração acabe.

Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo,

e assim possa eu partir, em plenitude o ser,

de sémen aljofrando o irreparável ermo.

Carlos Drummond de Andrade

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 05/11/2011
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