Quantificação

Tocando a campainha de uma casa vazia,

procurando pistas em um cofre arrombado,

tentando colar os cacos de um espelho estilhaçado,

buscando equilíbrio sobre um arame farpado,

tentando encontrar lucidez num caleidoscópio,

fazendo uma prece para um anjo caído...

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Quem consegue quantificar a dor que pode suportar?

Quem consegue quantificar o amor que pode sentir?

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Tocando uma melodia em um violão sem cordas,

cantando uma música sem letra em um palco sem público,

sonhando acordado com uma ilusão distorcida,

tateando como um cego o alto relevo de um azulejo liso,

fechando meu interior às investidas de um fantasma cômico,

acendendo uma vela na chuva de uma noite triste...

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Quem consegue quantificar o esquecimento que se esvai?

Quem consegue quantificar as memórias que teimam em manter-se?

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Sapateando descalço sobre uma fogueira apagada,

rodopiando acorrentado em grades invisíveis,

correndo para lugar nenhum com um destino indefinido,

atravessando as portas fechadas de um parque aberto,

ouvindo um violino na surdez do calabouço da incoerência,

esperando uma carta sem remetente ou destinatário...

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Quem consegue quantificar a dificuldade do devir?

Quem consegue quantificar a superação que nunca chega?