Suprema diva

(súplica)

Resplandecente deusa que hás de florear minh'alma,

deixa flagar teu coração em busca deste húmil poeta,

e que seja aviventado pela tua luz.

Quero minha soltitude, desaventura,

nesse lumaréu que exalas espanejando

tuas comas, cantada em minha lira,

para mostrar o sólio em que posso viver

perto de ti, deusa amada.

Deixa-me frasear, meus versos

numa flébil melodia, para que entendas

por que se me amararam os olhos;

quero que deites em mim o bálsamo

que escorre da tua poesia e que

por noites me esbraseia as cinzas;

Deixa-me despumar teu nectár,

aspirar teu alento rutilante

e retoiçar nesse dançar orféico da tu'alma.

Quero, contigo, me enlear no amor,

e no meu coração pungido, traspassado,

reavivar a flama que emana do teu ser.

Teus bosques são fartos, a primavera é perene em ti;

da nascente em que brotaste

és a primeira vestal, e as águas

vertem mansas escorrendo de ti;

todos os corações por ti se acedem

do doce amor na irresistível chama;

apieda-te de mim e faz o travor

da minh'alma adulçorar-se na brandura do teu sidéreo ser.

Deixa que em teu peito eu recline

a face e possa embeber em ti

os olhos, que, extasiados de amor,

ávidos pascem.

Vem, pois, encantada ninfa, corresponde

ao fervoroso amor em que me inflamo

e em teu mimoso manto

de mil cores, deixa-me

secar as lágrimas que derramo!

Chaplin
Enviado por Chaplin em 29/12/2006
Código do texto: T331551