Suprema diva
(súplica)
Resplandecente deusa que hás de florear minh'alma,
deixa flagar teu coração em busca deste húmil poeta,
e que seja aviventado pela tua luz.
Quero minha soltitude, desaventura,
nesse lumaréu que exalas espanejando
tuas comas, cantada em minha lira,
para mostrar o sólio em que posso viver
perto de ti, deusa amada.
Deixa-me frasear, meus versos
numa flébil melodia, para que entendas
por que se me amararam os olhos;
quero que deites em mim o bálsamo
que escorre da tua poesia e que
por noites me esbraseia as cinzas;
Deixa-me despumar teu nectár,
aspirar teu alento rutilante
e retoiçar nesse dançar orféico da tu'alma.
Quero, contigo, me enlear no amor,
e no meu coração pungido, traspassado,
reavivar a flama que emana do teu ser.
Teus bosques são fartos, a primavera é perene em ti;
da nascente em que brotaste
és a primeira vestal, e as águas
vertem mansas escorrendo de ti;
todos os corações por ti se acedem
do doce amor na irresistível chama;
apieda-te de mim e faz o travor
da minh'alma adulçorar-se na brandura do teu sidéreo ser.
Deixa que em teu peito eu recline
a face e possa embeber em ti
os olhos, que, extasiados de amor,
ávidos pascem.
Vem, pois, encantada ninfa, corresponde
ao fervoroso amor em que me inflamo
e em teu mimoso manto
de mil cores, deixa-me
secar as lágrimas que derramo!