Esplêndida

Esplêndida Ei-la! Como vai bela! Os esplendores

Do lúbrico Versailles do Rei-Sol!

Aumenta-os com retoques sedutores.

É como o refulgir dum arrebol

Em sedas multicores.

Deita-se com langor no azul celeste

Do seu landau forrado de cetim;

E os seus negros corcéis que a espuma veste,

Sobem a trote a rua do Alecrim,

Velozes como a peste.

É fidalga e soberba. As incensadas

Dubarry, Montespan e Maintenon

Se a vissem ficariam ofuscadas

Tem a altivez magnética e o bem-tom

Das cortes depravadas.

É clara como os pós à marechala,

E as mãos, que o Jock Club embalsamou,

Entre peles de tigres as regala;

De tigres que por ela apunhalou,

Um amante, em Bengala.

É ducalmente esplêndida! A carruagem

Vai agora subindo devagar;

Ela, no brilhantismo da equipagem,

Ela, de olhos cerrados, a cismar

Atrai como a voragem!

Os lacaios vão firmes na almofada;

E a doce brisa dá-lhes de través

Nas capas de borracha esbranquiçada,

Nos chapéus com reseta, e nas librés

De forma aprimorada.

E eu vou acompanhando-a, corcovado,

No trottoir, como um doido, em convulsões,

Febril, de colarinho amarrotado,

Desejado o lugar dos seus truões,

Sinistro e mal trajado.

E daria, contente e voluntário,

A minha independência e o meu porvir,

Para ser, eu poeta solitário,

Para ser, ó princesa sem sorrir,

Teu pobre trintanário.

E aos almoços magníficos do Mata

Preferiria ir, fardado, aí,

Ostentando galões de velha prata,

E de costas voltadas para ti,

Formosa aristocrata!

Cesário Verde

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 03/11/2011
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