DESCUIDO




Na teia desta noite,
Lembrarás de mim, sequer,
Que sou teu excêntrico cantor
E desfaço a angústia que vier
E te restauro solene hino de amor?


Andando afável pela rua
A exibir-te altiva e bela,
Uma vez mandarás um pedido à Lua
Repetir teu nome na minha janela?


Em acato ao silêncio do quarto,
Mulher domada — liberta e nua —,
Beijarás a preguiça do meu retrato
Detido em volúpia descoberta — minha e tua?


Voando, voando em bolhas de sabão,
Numa ponta de estrela, numa quimera,
Lembrarás que nega por imprevisão
O carinho que ainda não me deras?



Poema integrante do livro "Outono Verde".

Milton Moreira
Enviado por Milton Moreira em 01/11/2011
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