FERVOR



Inegavelmente, repõem-me corpo e alma.
E recupero minhas armas,
Amas das minhas armadilhas,
Animoso posto, castelo das minhas ilhas.

Há um ano redescobri-me, e não durmo.
Um ano transposto, e sou o sono fariseu,
E cismo sobre a lenda: a noite me escolheu.
Se não durmo acalentado por pesadelos e desejos,
Divido-me no assombro de sonhos e beijos.

Declaro minha reverência à solidão:
Sou o prêmio, vesgo tempo do passado.

Há um penhasco para se transpor;
Eu me dedico em voos libertos
Gritar meu grito interno, aberto
Para uma platéia atônita, um fã qualquer:
— Com fervor, amo a derradeira mulher!

Eu cismo sobre a lenda (a noite me escolheu)
E declaro minha reverência à solidão:
Tem-me prêmio o tempo que não me quer.

Milton Moreira
Enviado por Milton Moreira em 01/11/2011
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