ANJO NOTURNO
O pensamento não para
Dispara como se as asas de um anjo
Fossem para brisas de um carro
Em noite de tempestade
Volitando sob minha vontade
Tentando entender aquilo que
Não consigo ver
Turvando meu anoitecer
A pele negra molhada
Turva meus sentidos
E tudo vai desnudando
No frio da lembrança
O colo o cheiro de vastidão
Temperos da minha solidão
Tento fugir em desatino
Um menino que vê o sorvete no chão
E corre e chora sem destino
Porque a paixão lhe escapa
Não sabe o que vai lhe acontecer
E deixa-se envolver
Sem saber o que vai lhe suceder
Pois imaginou o livro pela capa
Apenas fragmentos alinhavados
Por letras que disparam curvadas
Em cuja forma sai do coração em desatino
Um pássaro notívago e soturno
Dentro da prisão do meu peito
Que canta quanto mais preso está
Dispara como bambolê em quadril de menina
E a sina assina sua rubrica na sombra de suas negras asas
Desperto e agora despregado de mim
Vejo que a tempestade parou
O anjo do feitiço voou
E o sonho também já passou...