ANJO NOTURNO

O pensamento não para

Dispara como se as asas de um anjo

Fossem para brisas de um carro

Em noite de tempestade

Volitando sob minha vontade

Tentando entender aquilo que

Não consigo ver

Turvando meu anoitecer

A pele negra molhada

Turva meus sentidos

E tudo vai desnudando

No frio da lembrança

O colo o cheiro de vastidão

Temperos da minha solidão

Tento fugir em desatino

Um menino que vê o sorvete no chão

E corre e chora sem destino

Porque a paixão lhe escapa

Não sabe o que vai lhe acontecer

E deixa-se envolver

Sem saber o que vai lhe suceder

Pois imaginou o livro pela capa

Apenas fragmentos alinhavados

Por letras que disparam curvadas

Em cuja forma sai do coração em desatino

Um pássaro notívago e soturno

Dentro da prisão do meu peito

Que canta quanto mais preso está

Dispara como bambolê em quadril de menina

E a sina assina sua rubrica na sombra de suas negras asas

Desperto e agora despregado de mim

Vejo que a tempestade parou

O anjo do feitiço voou

E o sonho também já passou...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 30/10/2011
Reeditado em 31/10/2011
Código do texto: T3307541
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