VARANDA
Na varanda da casa que não tenho,
coloco a cabeça no mundo da lua
mas fico com os pés no chão firme.
No chão, teço caminhos e sei que jamais os palmilharei.
Na varanda da casa que não tenho,
rezo o terço de cada dia,
faço a procissão passar com os santos em seus andores.
Caio de joelhos diante de um Deus que não é meu
nem eu sou Dele.
Na varanda da casa que não tenho,
leio o livro do poeta decrépito
cheio de versos moribundos.
Aprendo novas rimas,
nas entrelinhas do pensamento.
Com pena nas mãos escrevo com letras mortas
a poesia que não me ressuscitará.
Na varanda da casa que não tenho,
fico pensando no amor verdadeiro
e de viola em viola componho canções novas.
Os pássaros gostam de ouvir mas meu amor, não.
Meu amor; aquele que não veio nem nunca virá.