A Vulgar Que Passou

Não eras para os meus sonhos, não eras para a minha vida,

nem para os meus cansaços perfumados de rosas,

nem para a impotência da minha raiva suicida,

não eras a bela e doce, a bela e dolorosa.

Não eras para os meus sonhos, não eras para os meus cantos,

não eras para o prestígio dos meus amargos prantos,

não eras para a minha vida nem para a minha dor,

não eras o fugitivo de todos os meus encantos.

Não merecias nada. Nem o meu áspero desencanto

nem sequer o lume que pressentiu o Amor.

Bem feito, é muito bem feito que tenhas passado em vão

que a minha vida não se tenha submetido ao teu olhar,

que aos antigos prantos se não tenha juntado

a amargura dolente de um estéril chorar.

Tu eras para o imbecil que te quisesse um pouco.

(Oh! meus sonhos doces, oh meus sonhos loucos!)

Tu eras para um imbecil, para um qualquer

que não tivesse nada dos meus sonhos, nada,

mas que te daria o prazer animal

o curto e bruto gozo do espasmo final.

Não eras para os meus sonhos, não eras para a minha vida

nem para os meus quebrantos nem para a minha dor,

não eras para os prantos das minhas duras feridas,

não eras para os meus braços, nem para a minha canção.

Pablo Neruda

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 29/10/2011
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