RIDÍCULA
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
[Álvaro de Campos]
Meu amor, eu te amo...
Não como quem ama em equilíbrio,
Ou como quem ama em concerto...
Como quem escolhe o seu amor,
Não, amado, não te amo assim...
Eu te amo diferente...
De um jeito tosco, assim...
Particularmente,
Ridiculamente,
Por que amado, o amor não é ridículo,
Mas ele nos deixa ridiculamente ridículos.
E assim, amado, eu te amo...
Como quem ama a insensatez,
Por fora te exibo o sorriso da dama
Por dentro sangro a minha estupidez
Te amo como quem ama em desalinho
Por linhas tortas e dissonantes
Correndo sempre em tua direção,
Amiúde e devagarinho...
Te entrego pouco a pouco
Parcos pedaços do meu coração.