Velho Galeão
Embarco aflito no velho galeão de velas carcomidas
Sem sorte, sem bagagem, sem um norte na estalagem
À estibordo, o hábito no olho e as idéias confundidas
Entre a atual maresia e os resquícios da aragem
Avante ao mar de amar a amargura, que amanhã é a amostra
Cataclísmica dita de que nada é tão tudo que de tudo tome conta
Que sigo o caminho que este velho galeão falido mostra
Ainda sabendo que navega e nunca nada encontra!
Pudera a doce ilusão de ter-te resgatar-me da pirataria
De saquear o cais das lembranças ao longo dos intermináveis dias
E atracar seguro no porto indestrutível dos teus braços
Gozando tranqüilo do tesouro indescritível dos teus abraços...
Faço dessa saudade minha única bagagem palpável
Além do teu áureo anel pequenino e brilhante que ostento
No dedo mínimo, como lembrança fina e inabalável
De um amor épico, forte e único, provido de todo auto-sustento
Mas creio que não tanto assim, já que sumiste na névoa
De um domingo nublado pós-festa e sem fim
E desde então me ataca tua fragata sem trégua
Que não puderam os canhões do galeão atingir...
Ante o meu ponto mais maldito e frágil
Atiras direta e impiedosamente enquanto temo o naufrágio!