Palavras da esfinge

Normalmente uso as folhas ao contrário...

Normalmente começo do meio e vou para o fim, e para o começo várias vezes mais.

Uniformemente mudando a trajetória.

Segundo cálculos da balística, relatórios revelam que algo acertou meu coração.

Mas não chegou a feri-lo mortalmente...

E sinceramente, se isso é bom ou mau, desconheço.

Percebo que pra mim as palavras não tem significado próprio.

Como aquele ideograma chinês, onde a crise significa exatamente a oportunidade.

“Tudo depende do contexto” escuto.

Mas tudo está fora do texto, sem texto, sem nada.

Arte abstrata, palavras jogadas, música que remete a um tempo muito longe.

Um tempo atemporal.

Pensei, pensava que tudo ia ter um fim com a sua chegada.

E embora, não admitamos, ás vezes as coisas nos tocam.

Ou tocamos em coisas que nos desacorçoam de tal modo,

Que as lágrimas já não são mais suportadas.

Ganham vida, energia.

E uma saudade boa de sentir, como uma dor alegre.

Algo tipo Camões, não sei...

Não esqueço o olhar de minha mãe.

Um olhar triste, e por isso rezo por ela.

Mas num ato egoísta rezo ainda mais por mim.

Afinal, me conheço...

E meus pés galgam por vias estranhas.

Olhar sempre atento,mãos firmes e anjos ao meu redor.

Peço proteção.

Alegria e tristeza, bombas e beijos na são palavras.

São significados!

Tal qual o homem não é homem.

O homem é a alma na limitação da carne.

E como as palavras não tem carne, apenas significado, atiro-me para a esfinge:

“Decifra-me ou devoro-te”