LETARGIA
Odir Milanez
Desperto...
O sono sem sonhos sumiu.
Sem sentidos de sensação sua,
ele se foi...
Desperto para o instante,
após o tanto do tempo tomado por nós dois
nas divisões dadivosas dos desejos
que não dos deixavam dormir,
para que pudéssemos sonhar
acordados o gozo de cada dia.
Descerro as cortinas.
A penumbra perdeu a posse dos pecados.
Pecados que pecávamos com a pureza dos puros
de alma e coração.
Que venha o sol ver os vestígios das vozes.
Os lençóis talvez lembrem à luz
soluços sensuais, sinais de sêmens,
crises convulsas de macho e fêmea no cio,
ainda ambientados ao vazio do quarto.
Abro a porta.
Costumo-me ao chão frio da sacada
onde fizemos amor ouvindo e vendo o mar,
semana passada...
Viajo a vista pela praia deserta.
A vida, que o seu verde invade,
ainda não se fez desperta.
Desperta você talvez esteja,
passiva e permissiva
nas ofertas de orgasmos,
voejando outros ventos,
vagando outros mares
distantes dos meus.
Vontade me vem de voar nesses ares
que arejam o décimo andar
de nosso apartamento,
planar além dos planos
dos seres humanos,
para lhe ver, vadia e vulgar,
na libidinagem d’algum lugar,
na luxúria do corpo,
na lascívia dos lábios.
Lanço-me no vazio.
A sensação de frio,
antecede a imersão
de meu corpo
na escuridão
do nada...
JPessoa/PB
18.10.2011
oklima