O presente do rei

O nome das coisas inventa desculpas

para quilo que não precisa existir.

A distância, a tristeza, a inversão.

Não fossem os nomes,

eu estaria onde a razão construiu um mundo,

a milhas de distância do que deve ser o certo.

Quando eu extirpar os nomes do mundo,

sobrarão sons sem palavra, absolutos,

daqueles que brotam de uma orquestra sequestrada,

e que disseram o que sou, desde que sou antigo no mundo.

Se você me entrega um som sem nome,

eu lhe entrego o silêncio de quem entende.

Lhe entrego o que de melhor posso organizar

sendo um fabricante de valsas estranhas,

sendo um soldado em tempos de espera.

Se pinto a paisagem em tons de azul,

cinza, chumbo e carvão,

inverto a ordem de um menino grande,

que viu seu sonho trancado numa cristaleira antiga,

onde sepulto os nomes da solidão.

Os nomes do verde esquecimento,

e do rosa-extinção.

Quando as coisas não forem mais nomes,

quando os tempos não forem mais relógios,

aí direi que tudo teve uma razão,

porque dois mundos não se completam,

enquanto os nomes não se perdem no coração.