VOCÊ QUE AINDA NÃO ME AMA & MAIS

VOCÊ QUE AINDA NÃO ME AMA I -- 8 SET 11

Na realidade, não passo de um cabide

em que pendura, cada um, o seu chapéu.

Há quem pendure amor vindo do céu;

há quem pendure a troça que me incide.

Há quem pense em meu cabide como vide

e aqui venha colher uvas no seu véu.

Há quem apenas me avalie ao léu

e quem deseje de mim mais uma lide.

A maioria só coloca o guarda-chuva,

quando entra no vestíbulo e algo quer:

chapéus ficaram já fora de moda...

Mas num dos ganchos há quem prenda a luva,

nos dias de inverno, em busca de qualquer

carinho meu, quando a vida lhe incomoda...

VOCÊ QUE AINDA NÃO ME AMA II

E bem queria que a luva fosse a tua

e que viesses me ver, toda carente

e que depois fosse a visita permanente:

que me abraçasses linda e toda nua.

Eu bem queria que a meiga luz da Lua

iluminasse teus traços, frente à frente

com os meus permeio à explosão fremente,

quando amor encontra amor e mais se estua...

Eu bem queria ser o dedo de tua luva,

essa pele delicada e carmesim,

em que cabe de uma vez somente um dedo,

mais empenada ainda sob a chuva

de meu jato de amor, em sonho, enfim,

de partilhar contigo tal segredo!...

VOCÊ QUE AINDA NÃO ME AMA III

E eu bem queria o teu cabide ser:

que te lançasses inteira nos meus braços,

eternamente pendurada em meus abraços;

força meu gancho saberia ter

para te sustentar, te proteger

contra quaisquer inveja ou descompassos.

Contra quaisquer vacilares de teus passos

eu saberia novamente te acolher...

E teria ainda espelho bisotado,

por entre os ganchos do porta-chapéu,

que tua beleza mais realçaria,

por meu amor inteiro marchetado

das mil estrelas que roubei do céu

que nos teus olhos inteiro reluzia!...

ESPASMO

Por ti serei capaz de mil proezas

tentar: por conservar-te do meu lado;

meu coração já foi despedaçado,

mas recompôs depressa suas defesas,

a um ponto que querer ninguém podia,

estava mudo e cego, desconfiado,

ou antes certo que amor atribulado

muito menos que a paga me daria.

É de espantar que eu tente novamente!...

--- depois de tanto esgar, de tanta mágoa,

encher de ti de novo o coração;

depois de ver em ti, indiferente,

a voz e o olhar, uma seca, outro sem água,

nesse estertor sutil de uma ilusão...

ESTOPIM

Atualizei o amor, como um arquivo,

Que se baixa da rede... mais sinais

Do que se pode perceber, fanais

Das possibilidades que revivo

De um começo novo, de um altivo

Mostrar ao mundo tudo, quanto mais

Se está disposto a pagar pelos totais

Prazeres de um querer tão redivivo...

Porque é estranha, afinal, é caprichosa,

Nem sequer a si mesma se compreende,

Dominada, por sinal, pela emoção

Que apela a mim também: é contagiosa

Esta musa fatal, que só se acende

Quando sente o temor no coração...

MANÔMETRO

É lugar

É tempo de contar segredos:

É morte

Se odiei

Se amei, enfim, é tudo irrelevante

Se indiferi

Se vivi

Se esperei no coração os meus degredos

Se acolhi

Não são

Tudo é apenas a sombra de um instante

Talvez

Desejo

Reivindico de ti a névoa de um momento

Suplico

Confiante

Assustado do amor de uma donzela

Indeciso

Somente

Não apenas com suspiro me contento

Infeliz,

Não sou

Eu sou quem mais persegue esta gazela...

Sou eu?

Esquiva

Temerosa de mim, mulher tão bela

Anelante

Quanto jamais

Quanto sempre esperei achar um dia

Quão talvez

Para aquecer-me

Para esfriar-me de novo o coração.

Para amornar-me

Ela chegou,

Não me veio, enfim, a minha estrela...

Só me espera

Ainda aguarda

Se entrega por mais uma salmodia

Se recusa

Para negar

Por revelar quão grande é sua emoção...

Por nem saber

AVOENGOS I - 7 set 11

Vou colocar num pacote minhas tristezas,

minhas dores, amarguras e cansaços,

os mil dias em que fiquei sem teus abraços

e convertê-los num presente de incertezas.

Apor-lhes-ei dois carimbos de pobrezas

e etiquetas em grandes cartapaços:

SEDEX 10, que anula esses espaços,

como o veloz fracasso das proezas...

Endereçado direto a Satanás,

Pecados Mortais nº 13, Desolação,

Inferno, sem ter CEP (que não precisa assim).

E deixarei o pacote bem atrás

do balcão dos correios, e o Remetente não

colocarei, que não volte para mim!...

AVOENGOS II

Dizem os maias que os antepassados,

que se alimentam de nossas emoções,

de sacrifícios exigem multidões

e que somente consideram ser pecados

se pararmos de oferecer-lhes, descuidados,

nossas tristezas, dores e paixões;

desprovidos que são de compaixões,

são sofrimentos que os deixam mais saciados.

Por isso insistem que soframos dores

e nos atentam com falsos amores

e nos ajudam a viver com mais alento,

não que nos amem, mas de nós precisam,

para que nossas próprias dores os revivam

e lhe sirvamos diariamente de alimento.

AVOENGOS III

Os gregos e romanos também tinham

um culto firme a seus antepassados,

porque os temiam e, com gestos compassados,

a seus altares diariamente vinham,

mais por medo e reverência que continham.

Não que fossem mil demônios angustiados,

os que da vida quedavam-se afastados,

porém de seus descendentes se avizinham.

Não esperavam dor nem penitência,

apenas honra e lembrança permanente,

sendo essa a base de sua religião;

embora acreditassem, com frequência,

que retornavam ao seio de sua gente

pelos prodígios da reencarnação.

AVOENGOS IV

Por isso, era comum entre os romanos

dar aos netos os nomes dos avós,

ou aos bisnetos os de seus bisavós,

quando avós ainda viviam entre os humanos.

Assim criam ser mais fácil que os profanos

espíritos não encarnassem entre nós,

mas somente seus parentes e o atroz

destino se escapassem dos insanos

sofrimentos do Orco e Hades impuro,

ao renascerem no seio de sua gente,

sem pensarem em demônios ou castigos.

Por isso em mandarei caixote duro,

com todos os meus males de descrente,

para o depósito dos infernais abrigos.

AVOENGOS V

Porque acredito guardar meus diabinhos,

minha malícia e inveja, minha maldade,

em minhas masmorras, sem ter liberdade,

senão para escrever versos mesquinhos...

Mas quando mais destilam pecadinhos,

eu os vou guardando, com tenacidade,

em cenotáfios de total opacidade,

para os depois empacotar juntinhos...

Então os ponho no correio dessacrado,

com endereço certo e demarcado:

que não sejam abertos por ninguém.

Porque é claro que então se soltarão

e pelas narinas lhes penetrarão,

para instalar-se no corpo desse alguém...

AVOENGOS VI

Mas se forem direto a Satanás,

sendo abertos somente em seu inferno,

talvez o meu penar não seja eterno,

pela alegria que minha dor lhe traz.

Tirarão meus sofrimentos com tenaz

e churrasco farão do teor mais terno,

para aquecer-lhes os chifres nesse inverno:

comendo a dor, me deixarão em paz!

E seguirei pela vida, em bom-humor,

sem me deixar vencer pelo terror,

buscando o riso, a música e o prazer...

Ao ver em todos os meus males ironia

e achar graça quanto mais sofria,

pela calma indiferença do viver...

VOCÊ QUE AINDA NÃO ME AMA I -- 8 SET 11

Na realidade, não passo de um cabide

em que pendura, cada um, o seu chapéu.

Há quem pendure amor vindo do céu;

há quem pendure a troça que me incide.

Há quem pense em meu cabide como vide

e aqui venha colher uvas no seu véu.

Há quem apenas me avalie ao léu

e quem deseje de mim mais uma lide.

A maioria só coloca o guarda-chuva,

quando entra no vestíbulo e algo quer:

chapéus ficaram já fora de moda...

Mas num dos ganchos há quem prenda a luva,

nos dias de inverno, em busca de qualquer

carinho meu, quando a vida lhe incomoda...

VOCÊ QUE AINDA NÃO ME AMA II

E bem queria que a luva fosse a tua

e que viesses me ver, toda carente

e que depois fosse a visita permanente:

que me abraçasses linda e toda nua.

Eu bem queria que a meiga luz da Lua

iluminasse teus traços, frente à frente

com os meus permeio à explosão fremente,

quando amor encontra amor e mais se estua...

Eu bem queria ser o dedo de tua luva,

essa pele delicada e carmesim,

em que cabe de uma vez somente um dedo,

mais empenada ainda sob a chuva

de meu jato de amor, em sonho, enfim,

de partilhar contigo tal segredo!...

VOCÊ QUE AINDA NÃO ME AMA III

E eu bem queria o teu cabide ser:

que te lançasses inteira nos meus braços,

eternamente pendurada em meus abraços;

força meu gancho saberia ter

para te sustentar, te proteger

contra quaisquer inveja ou descompassos.

Contra quaisquer vacilares de teus passos

eu saberia novamente te acolher...

E teria ainda espelho bisotado,

por entre os ganchos do porta-chapéu,

que tua beleza mais realçaria,

por meu amor inteiro marchetado

das mil estrelas que roubei do céu

que nos teus olhos inteiro reluzia!...

William Lagos
Enviado por William Lagos em 15/10/2011
Código do texto: T3278091
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