LUCIDEZ DO INSTINTO
Olho-te no reflexo do espelho
e meus sentidos adormecem
neste instante passam coisas
muitas coisas no pensamento
e ao tentar dizer-te
a entrega me emudece.
Sinto-te os braços
nos toques mais leves
e quando penso em envolver-te
os braços desfolham secos
como se no outono estivessem.
Miro-te distante
e os teus olhos se fazem perto
confundem-me com o brilho
que de tão traiçoeiro
parece rasgar o céu como canivete.
Vejo o movimento dos teus lábios
finas linhas no conjunto do universo
mas não ouço nada.
Sinto congelar a imagem
no mais denso arrepio
como se estivesse cumprimentando
a entrada do inverno.
Teu sorriso desfila
na passarela da madrugada
umedecido pelo orvalho
mostrando que em tempo
a primavera chegou acompanhada.
Beijo-te a boca
com sede insaciável
o calor que me conquista
confessa-me que o verão
sempre chega
mesmo que um pouco tarde.
E assim...
Olho-te no reflexo do espelho
e meus sentidos adormecem
e neste instante passam coisas
muitas coisas...