LUCIDEZ DO INSTINTO

Olho-te no reflexo do espelho

e meus sentidos adormecem

neste instante passam coisas

muitas coisas no pensamento

e ao tentar dizer-te

a entrega me emudece.

Sinto-te os braços

nos toques mais leves

e quando penso em envolver-te

os braços desfolham secos

como se no outono estivessem.

Miro-te distante

e os teus olhos se fazem perto

confundem-me com o brilho

que de tão traiçoeiro

parece rasgar o céu como canivete.

Vejo o movimento dos teus lábios

finas linhas no conjunto do universo

mas não ouço nada.

Sinto congelar a imagem

no mais denso arrepio

como se estivesse cumprimentando

a entrada do inverno.

Teu sorriso desfila

na passarela da madrugada

umedecido pelo orvalho

mostrando que em tempo

a primavera chegou acompanhada.

Beijo-te a boca

com sede insaciável

o calor que me conquista

confessa-me que o verão

sempre chega

mesmo que um pouco tarde.

E assim...

Olho-te no reflexo do espelho

e meus sentidos adormecem

e neste instante passam coisas

muitas coisas...

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 10/07/2005
Código do texto: T32684