NEM AVANÇAR...NEM RECUAR.
Não posso mais...
Estou quebrada, estou arrasada...
Desde algum tempo,
Venho lutando para escapar,
Escapar à tentação que,
Ora discreta...
Ora persuasiva, sensível ou sensual,
Dança em volta de mim,
Como em torno das barracas de feira,
A rapariga brejeira.
Não sei mais o que fazer,
Não sei mais onde ir,
Tu me espreitas,
Me acompanhas,
Tu me invades...
Fujo do meu quarto, lá estás...
Recostado, a me esperar,
Na sala em que penetro,
Apanho um jornal,
E eis teu rosto,
Oculto nas palavras
De um artigo inofensivo...
Saio, te encontro a sorrir
Por trás de um rosto desconhecido.
Volto às costas,
Olho a parede,
Tu surges de um cartaz...
Entro em casa para trabalhar,
Tu cochilas em meus livros e,
Ao pegar em meus papéis,
Eu te desperto...
Desesperada,
Ponho a minha pobre cabeça
Entre as mãos,
Fecho os olhos...
Para não ver mais nada.
Mas descubro-te mais vivo,
Mais vivo do que nunca,
Instalado em minha casa fechada,
Como se fosse...
Tua própria casa.
Pois tu arrombaste minha porta.
Instalas-te em meu corpo,
Nas minhas veias,
Até as pontas dos dedos...
Cantas ao ouvido de minha imaginação,
Toca meus nervos,
Como se fossem cordas de violão.
Já não sei mais a quantas ando.
Nem mesmo sei se desejo este pecado,
Que me acena...
Não sei mais se fujo dele,
Ou e o persigo.
Sou tomada de vertigens,
O vácuo me atrai,
Como atraí...
O imprudente alpinista
Que não pode mais,
NEM AVANÇAR ... NEM RECUAR...