NÃO SE VÁ DE MIM

Você se foi

Levou-me contigo

Levou minha noite

Levou minha negritude

Estou sem meu tecido de veludo

Sem minha beatitude

Adormecido estou sem meu nada

E sem meu tudo

Sobretudo minha amada

Sem minha carne enjaulada

Que somente nela livre me desnudo

Músculos

Corpúsculos

Ósculos

Sanfonas de vai e vem

Corpo de algodão a cem por cento

Eriçadas peles vento que alimento

Sussurros no convento

Confissões e juramento

Mãos que me soltam

Mãos que me retêm

Estou em réquiem

Estou financiando estrelas

Sem sê-las...

Vou riscando o céu

A fim de acendê-las

Em face de escuridão

Que esta procura não seja em vão

Pra ver se consigo te achar

Como alma de minha encarnação

No meio delas haverás de estar tu

Em plena comunhão

Neste círio de procissão

Já que minha alma está voando vazia

Pois no meu chão de letras

A solidão me esvazia...

Neste pó que só encontro

Fechadas portas

Serpentinas tortas

Fico meio que de lado

Meio que meio morto

Meio que meio torto

Sem sê-lo meio que inteiramente absorto

Eras minha estrela guia

Minha asa de poesia

Minha escadaria no branco

Pó da luz do dia...

Encontrei-te beijando um astro

Deixavas um rastro luzente

Pra eu te encontrar novamente

O passado e o futuro

Beijaram-se e no eterno presente

Foram felizes para sempre...