Prece

I

Que ele não seja

sacro.

Mas apenas fiel,

alimentando os sonhos antigos

E que ainda me reserve um tempo

Que ainda me estenda às mãos

e conte estrelas comigo.

Para que o fim do dia

Ainda pareça

manhã

II

Amanhã.

Que o amor ainda seja capaz

de habitar as frestas da janela

e de entoar mantras ao silêncio

para as cigarras, para os rios

para as singelezas das nuvens

até quando a noite alta aparecer.

III

Anoitecendo

para que eu consiga

ser esperançosa

Mesmo quando a porta

entreaberta

apenas mostrar os raios de escuridão

Que vem de dentro.

E mesmo que aqui fora

a última luz também esteja esmaecendo.

IV

Que este amor me veja.

Além das aparências, das placas de vidro fosco

[que separam a certeza

dos medos]

Além da grama alta dos meus olhos

E da armadura.

Que este amor me veja.

V

E que seja antes da última vez

(Jessiely Soares)