Fogo, palha e lenha 2

Não se sabe como começou.

Talvez por calor ou atrito.

Falar sobre fogo é mistério

de seu nascer ao extinguir-se.

Desde cedo o vimos ardendo:

era chama pobre e franzina,

mal podendo dar-se a si mesma

dessa sua luz fraca e mortiça.

O fogo, como bem se sabe,

busca acender-se mais ainda,

quer evitar o malograr-se

desse seu desejo intrínseco,

busca arder até queimar-se

em seu próprio calor íntimo,

incendiar-se na própria alma

e ter prazer mediante o risco.

Por isso o fogo sempre busca

ter alguem com que compartilhe

dessa beleza assim tão brusca

que ele tanto quer e apecia

mesmo que tamanha aventura,

acabe lhe pondo em perigo,

a maior beleza da chama,

está em arder e extinguir-se.

A palha, em seu estado morto,

é uma estrutura a erodir-se

perdeu a sua firmeza verde

e também a flor que possuía.

Perdeu a plácida leveza

da herva que era na colina,

juntamente com a esperança.

Daí o querer suprimir-se

Um dia dos lençois da palha

achou a chama de cingir-se,

agradou-lhe o seu jeito fácil

e o seu abrir-se ao convite.

Deixou cair sua labareda

sobre seu corpo ressequido,

buscava conforto de cama

para seu eu quase extinto

Então a palha mostrou-lhe

Sua forma íntima e felina.

Deixou-se arder d’uma forma

que não reconhecia limites...

E no ardor desse tal momento

incêndio formou-se em seguida

daqueles de cujas alturas

a pobre chama desconhecia.

Foi um momento forte, intenso,

de proporções inconcebidas,

mas que no áuge do seu calor

apagou-se logo em seguida.

Voltara a chama ao seu estado,

ou, quem sabe, pior aínda,

pois uma altura mais machuca

aquele que mais alto caía.

E foi, então, quando na lenha,

quis a chama buscar abrigo,

se não pudesse incendiá-la

pelo menos podia extinguir-se

A lenha aceitou relutante,

pois nunca foi dada ao convite,

talvez a aceitasse por pena,

ou porque ela muito insistisse.

Entretanto a lenha também

estava num estado triste,

pois, como a palha anteriormente,

também fora verde um dia.

E, de certa forma, aquela chama

de algum jeito a constrangia,

talvez fosse por ser pequena

ou por saber que ela morria

Então, por mais dura que fosse,

abrigou a chama franzina,

deixou que do seu velho caule

fosse também tirar energia...

E assim foram crescendo juntas,

numa união união tão intrínseca,

que uma não era sem a outra

e sem a outra nada havia...

Então a chama ardeu com a lenha

numa comunhão tão bonita

que as duas perceberam que

que queriam findar unidas.

Talvez isso fosse uma história de amor.