Gaivota sem oceano
É difícil prosseguir nesse caminho com sua lembrança tão forte,
como um raio de sol que teima em distrair meu olhar na estrada,
como um sopro de brisa que me faz aspirar seu perfume na paisagem,
como um retrato que não desbota e levo no bolso colado ao coração,
eu vago entre portas e labirintos de mim mesmo tentando esquecer...
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É difícil entender porque as pessoas precisam de modelos para amar,
como se os sentimentos pudessem ser acondicionados em vasos,
ostentando formas e estéticas de um belo cristalizado na tradição,
abrindo mão do que lhes deu paz e felicidade por aparências indeléveis,
figem para si mesmos não serem cortados pela dor que os consome...
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Porque eu não me enquadro nesse mundo?
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É difícil aceitar que preciso ser o que você planejou para estar ao seu lado,
quando é o estalo de dedos na surpresa do instante que acorda para a vida,
quando é a ressaca do mar revolvendo as ondas que nos traz a intensidade da vida,
quando é o mistério de uma rosa deixada como um beijo sobre o travesseiro que enseja o romantismo de uma manhã,
mas nada disso importou quando preferistes virar as costas ao que eu lhe ofertava de bom grado,
aprisionaste em sua armadura de frustração as vontades de sua alma,
para viver em tristeza o canto solitário de uma gaivota sem oceano...
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Porque eu não a retiro de meus pensamentos?
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Na solidão estamos agora, olhando pela janela a mesma estrela em um céu nublado...