Traduzir-me em poesia, suicídio
Traduzir-me em poesia, suicídio
À noite, acossa-me o brado de milhares
(da cidade, do mundo, para além do mundo)
Conservo-me rente e só à observar o tempo,
logo ali surrado de insólitos sentimentos.
Deixo passar, por vezes, àquela palavra
e torno-me silêncio, olvido a razão que me silencia.
Aguça-me o tato e o olhar (que, muitas vezes, não me salva
da ruína que é magoar alguém), silêncio e lágrima.
Traduzo-me em verso, que, na verdade, é suicídio.
Ajuda-me a suportar a noite. Desapareço-me, aos poucos, em cada palavra.
Ao coração pequeno, pessoas e palavras. Definição de carência, desejo.
Pouco a pouco, apago-me do mundo e vou-me para além do tempo.