Traduzir-me em poesia, suicídio

Traduzir-me em poesia, suicídio

À noite, acossa-me o brado de milhares

(da cidade, do mundo, para além do mundo)

Conservo-me rente e só à observar o tempo,

logo ali surrado de insólitos sentimentos.

Deixo passar, por vezes, àquela palavra

e torno-me silêncio, olvido a razão que me silencia.

Aguça-me o tato e o olhar (que, muitas vezes, não me salva

da ruína que é magoar alguém), silêncio e lágrima.

Traduzo-me em verso, que, na verdade, é suicídio.

Ajuda-me a suportar a noite. Desapareço-me, aos poucos, em cada palavra.

Ao coração pequeno, pessoas e palavras. Definição de carência, desejo.

Pouco a pouco, apago-me do mundo e vou-me para além do tempo.

Gabriel Furquim
Enviado por Gabriel Furquim em 28/09/2011
Código do texto: T3246397
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