VESTINDO A CHUVA
Quando a tarde esconde o sol
E as nuvens sobrevoam o céu
Pingos de chuva caem na terra
Como se fosse um límpido véu
Cobrindo o solo sagrado
Lavando as mágoas do passado
Sem tocar a melodia do escarcéu.
O teu amor me faz chegar
Até onde os pássaros vão
Vestido somente de chuva
Tocando de leve tua mão
Contato suficiente
Deixando-nos consciente
Da força que tem a paixão.
Tardes quentes, acompanhado
Exalando teu estranho perfume
Tardes chuvosas, solitário
Corroído pelo fétido ciúme
Calor subindo a torre do beijo
Frio descendo ao desejo
Que não figura mais no cume.
Lembranças, estranhas sensações
Janela, portal de lindas paisagens
Solidão, roteiro inacabado
Vereda para as longas viagens
Chuva, manto transformador
Das angustias, medo e dor
O real em singelas miragens.
Idas e voltas na mesma época
Meandros das concepções
Incertas como a saudade
Sem a bússola de orientações
Sem dizer sim e nem não
Único a comer da solidão
Depositada em nossos corações.