ROCHEDO
Tecido esgarçado
réstia de sol
pedaço de lua
rochedo
algo a ser arrancado do corpo
algo não lhe pertencido.
Ar que entra
ar que sai
pensamento expulso
moscas
tudo sob suspeita.
Véu desta idéia:
tua vida.
Face obscura:
tua vida.
A caravana passa
pólo sul
pólo norte.
A lua não sabe
nunca saberá.
Não apontes para a lua.
Unhas de corte arredondado
conformes aos portos conhecidos.
Sonda o invisível.
Sonda o visível.
Caminha sentindo
o que for nascendo.
Ama os fragmentos sílabas vestígios
de um pássaro rápido demais.
Do que terá sido
este tremor nas mãos?
Cala o que sentes
do que ainda te pertence:
o quase nada da brisa.
Esta árvore
esta quase saudade esgueirada súbita
lagartixa
palavra que se repete imóvel
pedra.
Deixa girar o mundo vertigem.
Um rochedo a ser arrancado do corpo.
Mundo verde
onde toda vida vive
sobretudo as incompreensíveis.
O amor sem manual de instruções.
Continua jogando sem parceiro.
Consola-te:
em algum tempo do mundo
alguém sonha
sonho igual.
Consola-te:
Em nenhum tempo do mundo
ninguém sonha
sonha igual.
Tudo o mesmo
se não,
algo é acrescentado
suprimido?
Um rochedo a ser arrancado do corpo.
Um rochedo que não te pertence.
Teus parceiros invisíveis
teus parceiros visíveis
todos deuses
sem escrituras
nem garantias.
No entanto houve uma Voz...
No entanto ouve uma Voz...
Carrega, impassível,
os segredos
dos teus parceiros.
Os Numes não têm nome
número
data de nascimento
carteira de identidade .
Os Numes
não estão nas estatísticas.
O sabor deste momento não te sabe.
Há Eras desconheces
as ciências.
Que oração te devolve o Ser?
A pedra despenca
no fundo do lago.
A fogueira arde
no centro da noite.
As máscaras não convencem.
Caminhas pelos emaranhados da árvore
as doenças da tua identidade.
Água que não houve
e se houve não persiste
e se persiste
não sabes onde.
Um rochedo a ser arrancado do corpo.
Os parques de dentro, encarquilhados.
No momento em que nasceste
começaste a usurpar teu trono próprio.
O rochedo arrancado do corpo
bolhas de sabão do pensamento
segundo da Voz
tão nítido...
Círculos na água. A pedra afunda.
Amor? Ah, amor...
Republicação na manhã de 23 de setembro de 2011.