Repouso


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(...)Dá-me tua mão
E eu te levarei a gozar a alegria do solo
                                     [ agradecido,
Te darei por leito a terra amiga
E repousarei tua cabeça envelhecida
Na relva silenciosa dos campos.
Nada te perguntarei,
Apenas ouvirás o cantar das águas adolescentes
E as palavras do meu olhar sobre tua face muito
                                     [ amada.
                              Repouso – Adalgisa Nery
 
Dá-me tua mão
E eu te contarei da estranheza de todos os caminhos
                         [longe do aconchego do teu abraço
E te contarei das canções que escolho para te encantar
                    [e das histórias para te fazer rir e sonhar
 
Dá-me tua mão
E eu te farei entender o quanto é bom tua presença
                               [silenciosa, falante ou furtiva
Que nas nossas idas e vindas, meu lugar será sempre
                               [ do teu lado
Sonhando os sonhos possíveis, vivendo e amando
                            [segundo nossas necessidades

Dá-me tua mão
E te aninhas em meu regaço
E eu te farei saber  o quanto  me faz bem
                        [respirar do teu lado
O quanto és amado e desejado
E o quanto preciso do teu cuidado, do teu sorriso,
                          [da tua paz, do teu amor.
                              Repouso - Edna Lopes

*Amo a poesia de Adalgisa Nery!
Abaixo, um fragmento de sua grandiosa biografia


Da Série uma Música, um poema, outro texto.



Adalgisa Nery, poeta, jornalista e política, morta há 30 anos, em 7 de junho de 1980. Atuando em áreas tradicionalmente masculinas, Adalgisa colecionou amores e, também, alguns desafetos, mas conquistou reconhecimento e espaço na intelectualidade brasileira. No fim da vida, Adalgisa escolheu a solidão, recolhendo-se num asilo em Jacarepaguá.

Adalgisa Nery estreou na literatura após a morte do pintor modernista Ismael Nery (1900 - 1934), seu primeiro marido. Viúva, casou-se com o chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da ditadura Vargas, Lourival Fontes, desempenhando um papel crucial nas relações entre o Estado Novo e os intelectuais. Em 1954, após o suicídio do presidente, já separada de Lourival, Adalgisa estreou no jornalismo, fazendo carreira no jornal de Samuel Wainer, Última hora, ao assinar a lendária coluna “Retrato sem retoque”, espaço em que abordava, diariamente, com tom nacionalista, assuntos de política e economia, atacando os desafetos políticos.

Tendo a elegância como marca, andando sempre com cabelos e unhas impecáveis, Adalgisa atuou no campo intelectual, transgredindo na prática o papel da mulher, desde os anos 1930. A poeta deixou um legado para as mulheres que hoje ocupam lugar de destaque, principalmente no campo jornalístico. 

“Ela escrevia com muita personalidade e voz própria. O exercício do jornalismo diário com textos políticos foi o que elegeu a deputada Adalgisa Nery, uma mulher sedutora e, ao mesmo, tempo muito dura”, afirma a escritora e jornalista Ana Arruda Calado, autora da biografia Adalgisa Nery, muito amada e muito só (Perfis do Rio, 1999), o único livro sobre a trajetória da poeta, que está esgotado.(...)
Por  Ramon Mello. Ler mais em http://www.saraivaconteudo.com.br/Materias/Post/10336