Inédito e Único

...

É raro...

Ele raramente vem.

Ele.

São pouco usadas, as palavras dele. É fácil perceber quando se é a rainha das repetições, assim como eu. Sempre uso as mesmas expressões para as pessoas mais diferentes, para as histórias mais divergentes. Eu sou sempre a mesma variação.

Ele não.

Ele é quase inédito.

E, único.

E ele fala assim, com palavras pouco ditas, que ele gosta de mim, que gosta do jeito que eu sou.

Ele ainda não sabe como é difícil gostar de mim, do jeito, de como sou.

Talvez eu tenha mudado e agora seja diferente.

Não. Não vai ter nada de diferente a não ser as palavras dele, que são pouco usadas.

As minhas respostas, quase rasgadas de tão ditas, têm significado para ele. Eu tento mudar e a única mudança que alcanço é ficar calada. Todas as outras palavras minhas já são gastas.

E eu acho que ele merece palavras novinhas, assim como as dele.

Tão inéditas, tão únicas.

Então me calo toda vez. Ele diz que gosta de mim do jeito que eu sou. Eu quero dizer que eu também gosto dele, que adoro, que amo.

Fico calada.

Eu tenho tanto medo. Tanto medo e tanto amor.

Deixa ele ser diferente.

Diferente que nem as palavras dele, tão distantes das minhas.

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 16/09/2011
Reeditado em 16/09/2011
Código do texto: T3222937