Marcha do cão raivoso
Este verme quer ser eterno e definitivo,
como os escritos de uma lápide épica,
das que brotam cinzentas do chão estéril
e dizem de quem já foi e de quem virá.
Se insinua como todos os invertebrados,
produtos do nojo e da suspeita,
envenenando a razão pura e a serenidade,
trazendo os sons destacados do outro lado
onde moram poetas apaixonados e fracos,
e onde as esperanças vão para morrer.
De repente o estrondo do meu grito,
como o guinchar de uma ave ferida;
é o meu cárcere se fechando eternamente
enquanto passam as almas cansadas
de tantos versos assassinados aleatoriamente.
São então tambores de guerra e canhões,
trompas de caça e marchas para a morte.
É o rio sem nome e a nau do soldado
ferido, esquecido e cansado,
rasgando as águas em direção ao fim de tudo,
que é onde começa angústia da matemática.
Faz-se a chuva, de onde nasce a espera,
de meu coração envenenado e negro,
que não mais batendo, e sim matando,
e inunda ao mundo do meu ódio insano,
que não sabendo, nem criando,
mata aquilo que não nasceu ainda.