Identidade
A gente passa a vida tentando ser o melhor pro outro,
Agora eu posso ter um filho não por mim
Mas para agradar meu marido.
Agora posso desistir do meu emprego.
E viver em função dos meus filhos e dele.
Agora eu posso deixar de sonhar.
Tenho que ser menos boba,
Menos nociva menos eu mesma.
Aguentar desaforos pra não magoar
Não se importar com meu bem estar.
Suportar enjoos calada e suportável,
Não falar de boca cheia.
Aguentar meu próprio fracasso sem gritar
Não dizer que não dar mais.
Ser um pássaro na gaiola,
Um animal acuado.
Usar uma roupa sem combinar
E não ter a coragem de trocar.
O mesmo de ter um sapato apertado,
E suportar o aperto sem o jogar fora.
Isso é o início do desespero
O acúmulo do fracasso na vida.
Deixar de viver pelo amor dos outros.
Os outros são apenas os outros
E nada mais além disso irá mudar.
Se cada pessoa pensasse assim
Não haveria tatuagem, cabelos cloridos, nem roupas negras.
Enfim não haveria a liberdade da individualidade.