SEM PERDÕES (O Padre e a menina)
Ele homem casto e bom
Ela provocante de batom
Ele na fé de seu sermão
Ela sem nunca dizer não
Ele ungido pão e vinho
Ela atrapalhando o caminho
Ele entre beatas e santos
Ela alugando seus encantos
Ele água benta e penitência
Sem prestar muita atenção
Ela cheirando falsa essência
Sem prometer pede perdão
Ela em cruz que não termina
Ele desfiando mil rosários
Por alguma luz que ilumina
Cruzaram-se os itinerários
Ela contou cada pecado
Sem pressa, toda calma
Ele se achando abençoado
Limpou seu corpo e alma
Passou a vir toda tarde
Depois das horas de atriz
Pedia sem muito alarde
Alívio para sua cicatriz
Tanto enlaçaram a mão
Entre bênção e perdões
No sentimento, confusão
Das entranhas, sensações
Das solidões brotou paixão
Olhares ternos e emoção
Juraram de todo o coração
Amor eterno em comunhão
Ela sonhou fosse menina
Foi mudando sua rotina
Nunca mais uma esquina
Nunca mais qualquer um
Sem repentes, na surdina
Na consciência uma faxina
Lançou fora sua batina
Formaram um casal comum
Nunca mais estar sozinho
No bar da esquina, na igreja
Brindaram cálices de vinho
Ou um copo de cerveja
Tiveram seus espinhos
Feridas curadas num sorriso
Voavam tal dois passarinhos
Devem ter ido ao Paraíso
Nada é certo ou errado
Nem um bom, outro ruim
Assim, pertos, lado a lado
Os dois se amaram até o fim