OS OLHOS DELA.
Cinzenta São Paulo que nos comove
Às irrefutáveis chamas da existência,
Carrega no teu dorso toda a essência
De uma metáfora incontida.
No teu dia as estações absorve
Testando o frágil metabolismo
Que o verão matinal não compreende
Ao deparar-se com o inverno noturno.
Conjuro uma prosopopeia e escrevo
Sobre os olhos dos cidadãos
Da luta e da lide efêmera do coração:
- A subsistência!
Que a dignidade do voto servil
Seja a dalmática do povo febril
no transporte aglomerado.
Que o vernáculo se alongue na pintura
Que desenha tamanhas enfermidades
No céu abarrotado de cinza
E as ruas cobertas de carros.
O mundo é triste nos olhos sem vida
Do mendigo que se senta comigo
E pragueja seres inominados.
São tanto olhos sofridos que pranteio
Dentro de mim versos condolentes.
Mas que me perfure o siso
Quando a cantar digo
Que Sampa ainda tem teus amores.
Sampa ou são os meus olhos?
Ah! Mas que vista e que desejo!
Já me esqueci das crianças que brincam,
Ignoro o mendigo que - infelizmente -
Fede aos maus tratos da vida.
E não noto o ignóbil com um celular
A tocar para todos barulhos doentes
De mentes doentes que aplaudem
A promiscuidade...
Ela (que me arranca o siso e a atenção),
Tem os cabelos que discorrem,
A pele, que no seu moreno, me seduz.
Os lábios, os olhos, as mãos tão singelas.
Mas que úlcera o meu ódio me faz
Ao ver que sou um incapaz
De vencer meus joelhos trêmulos,
Minhas mãos suadas e o meu coração a pulsar
Sem regra fora de seu lugar.
No seu jeans, na sua sapatilha
E a sua camisa de botão
Os meus olhos perseguem e desenham
Os lábios que anseiam
Sem qualquer coesão.
Tornaste a fuga do real,
A amante das minhas manhãs,
A espera dos minutos,
A busca dos olhos
E a minha guia angelical.
Ao crer no romance de teus olhos
Eu esqueço os olhos enfermos da cidade
E encontro a cura que procura
Toda a nação.
Autor: Ygor Pierry