N I N G U É M

Quase toda ação requer períodos de intervalo, sabemos muito bem,

Sístole atrial, diástole ventricular, inversão repetida, assim funciona o coração,

Movimentos alternados e repetidos durante sua dinâmica,

Impulsão, intervalo, manutenção da vida ativa do organismo...

Na reação química, a afinidade dos reagentes prescinde de energia de ativação,

A criação requer momentos de reflexão, até a sua concreção,

Admitir uma vida sofrida é uma questão de opção, o intervalo está no arrependimento,

Uma vida destituída de sonhos transforma-se em rotina que desanima, sem rumo , sem sentido...

O intervalo do beijo transforma-se no desejo de continuar beijando, quando realmente se gosta,

O contrário do nada é o existir, o preto e o branco são paradoxais e inexistem sozinhos,

Assim como o alto e o baixo, o raso e o profundo, o ódio e o amor,

Seja como for, é altamente necessária a recomposição de forças, contraposição do inexistente,

Absorto em meus pensamentos entrego-me de corpo e alma ao silêncio,

Por sua vez, o som rompendo o silêncio leva às vezes ao delírio ou as criptas mais elevadas do martírio,

Que seria da vida sem som ?

Falar, cantar, ouvir um instrumento...

E o deslindar das ondas do mar nas areias ?

Que seria de mim não fosse você ?

Não sei !

Posso até aventurar-me a explicar:

Um talvez ...

Que seria de mim sem você ?

Esta eu sei...

Ninguém !

Paullo Carneiro
Enviado por Paullo Carneiro em 06/09/2011
Reeditado em 04/05/2016
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