EU SÓ NÃO VEJO A MIM
Vejo prenúncios, indícios, vaticínios e constatações
Emoções, prédicas, retóricas e silêncios
Inundados lenços e risonhas fartas inebriações
Vejo-me um rosto sem feições, pedaços minúsculos de sonhos imensos!
Contemplo a música da solidão que se acerca de multidões
Aplaudindo as fracassadas incursões dessas guerrilhas ordeiras
As amplas olheiras gestadas em madrugadas de tentações
Onde os pecados foram ilações e todas as ilusões foram verdadeiras!
Assisto em mim o drama cômico de um roteiro trágico
Como que por um passe mágico de ilusionismo feito pelo acaso
Um rio furioso e raso, que só permite a fuga em nado estático
Um ator performático que arranca da vazia platéia um calado aplauso!
Eu vejo sintomas, reflexos, caricaturas e versões
Todas as dimensões, coordenadas e mapas que apontam para o fim
E vendo-me assim, constato que são tuas todas essas aparições
Que eu vejo sem interrupções, ao mesmo tempo que não vejo a mim!
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Reinaldo Ribeiro - O Poeta do Amor