Pertencimento Distante
De repente o relógio parou de contar o tempo.
O tempo que parece não querer parar.
E cada segundo se transforma em angústia;
cada angústia se transfigura em pensamento;
todo meu pensamento se converte em solidão.
Vejo pela janela toda essa Natureza
que meu olhar contempla, silenciado. Reflexivo.
É tudo tão incrivelmente distante e meu.
Assim como você.
Que, embora tão distante, não sai do meu:
corpo, pensamento, mente, coração... Não sai de mim.
Vício da memória, masoquismo e angústia!
E é agora que percebo por que contemplo esta Natureza:
são os raios de sol, a canção dos pássaros, o vento no rosto,
o cheiro do capim, o gosto de vida...
É o brilho do seu olhar, a melodia da sua voz, o toque das suas mãos,
o perfumar da sua pele, o sabor do seu beijo...
Amor, a Natureza se faz em mim e eu a amo tanto.
Porque, se sou feito dela,
logo me faço a cada segundo de você.
E daí sofro, me angustio.
Sou feito de um pertencimento distante.
Onde é que você está, senão dentro de mim?
Quando a vontade é de na verdade eu estar agora ao seu lado.
Recorro ao relógio.
O meu tempo é diferente.
E um segundo sequer ainda passou...