A maçã
A maçã, vermelha, descansa
no prato, sobre a mesa.
Assim, olhando de relance,
furtivamente,
dá a impressão de ser
um quadro que retrata
a natureza morta.
Entretanto, sua pele macia,
lustrosa, enche a boca d´água,
como se a maçã fosse o último
fruto sobre a Terra ou,
quem sabe, a última refeição
de um condenado à morte.
Talvez a lembrança do
poema de Bandeira.
Ou será de Vinicius?
Alguns diriam tentação.
Penso ser apenas a intertextualidade
poética que passeia
na memória.
Mas a maçã, vermelha, descansa
no prato, sobre a mesa.
Vermelha maçã na tua boca
também vermelha.
Suculenta maçã na saliva doce
que inunda e tempera
o paladar, o olfato, a visão e o tato.
Não importa o tempo que flui
sorrateiro, deslizando cúmplice
ponteiros afora.
Lá se vão os segundos, depois
os minutos, quiça as horas.
Continua a maçã, inerte,
por sobre a mesa.
Talento eu tivesse...
Pintaria uma tela.
Mas, por agora, apenas um
poema, e nele alguns versos,
talvez rubros, assim como
a maçã, vermelha, que
descansa no prato,
sobre a mesa,
acintosamente bela.