Desalento

Demais foi toda essa espera, todo o caminho que percorri para te encontrar, todos os enganos e sofrimentos que a ilusão do que poderia ser trouxe e a realidade do que é tornou absoluta a certeza de que algo precisa ser mudado. Talvez, florear as verdades não tenha me valido nas alegrias efêmeras de palavras cada vez mais vazias, perdidas em teores dissolutos por atos não condizentes, em outras frases impertinentes ao sonho do que foi ouvido e traduzido com tamanho carinho e inquestionável necessidade de amar o que se supunha recíproco.

A frieza que deveras me tranca as portas e me impede o caminhar do sonho, decerto há de ser a mesma que me estimulará a bastar o que parecia coeso e agora me desmantela, demais que tem sido a espera e não me traz nem a metade do esperado, nas noites em que as mensagens são telefônicas e me vêm assim, corrosivas, sem esperanças e sem a doçura com a qual alimentei meu coração até então... Não haveria sentido em manter o que já foi corrompido pela desconfiança, pelo medo de um talvez, pelo desacreditado...

Busco algo que, talvez, me encontre...

Eis que me vejo diante de minha utopia, o sonho que idealizei durante todos esses anos numa perfeição que, agora eu sei, foi só minha nessa indefectível forma de amar e preservar o que amei, durante esse demais que foi essa espera pelo meu amor acontecido, além dos devaneios e tantos papéis escritos...

Não aceito o que tem sido desfeito por tão pouco diante de meu imenso querer, que foi e tem sido essa história que criei, vivida tão intensamente por mim num universo paralelo onde o admissível seria sempre tua vinda infinita e o acessível, apenas nós... no espaço e no tempo...

Resignação é a abstinência do viver. Nunca me coube essa nobreza ou quaisquer outras convencionalmente conhecidas, que me venham a compor a personagem que eu jamais representaria... Aqui vim para viver intensamente todos os meus sentimentos, o que por si somente me coloca em aventuras intermináveis de prazer e de dor, na inconstante permanência que estruturaria o que a distância e o tempo normalmente fazem desaparecer...

E demais também serão as minhas ilusões, até que eu me conscientize da fragilidade na qual se encontra o que sobrou de um sonho de uma juventude remota, arrastada por minhas memórias, que já se fazem póstumas, visto que morro em vida ao saber que não sentes como eu aquilo o que... eu pensava ser nosso, de tão sincero e profundo... memórias que agora penso serem insanas, pois não consegui te mostrar ou mesmo te fazer acreditar na grandeza de tanto amor que, de mais, por mais e onde mais, só senti por ti...

Bobagem a minha tentar resgatar o que apenas eu saberia onde encontrar, não tivesse sido perdido para sempre e gradativamente ainda agora, quando tenho ouvido excessivamente o que mais me desestima sentir... o que desilude e me desidrata em lágrimas que teimam em rolar, pranteando um sonho que já não me pertence porque te recusas a compartilhá-lo comigo...

Isso, todas as vezes em que me indagas um até quando...

Todas as vezes em que demais nunca será o que esperas...

SATURNO
Enviado por SATURNO em 14/12/2006
Reeditado em 09/06/2013
Código do texto: T318171
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.