Inventário
Experimentar a perda desde menina.
História de muita ausência na vida.
Perder muito e desde sempre.
Às vezes de modo brusco.
Sem tempo pra despedida.
Ensaiar em vão os adeuses,
as juras, os longos olhares.
Tudo se vai de repente
restando dor e pasmo
na alma, no corpo, na mente.
Perder e perder sempre.
E ter medo
e sentir horror da próxima vez.
Ouvir o coração em fuga
repetir aturdido:
Talvez...
Trazer escondido no peito
um sentimento de solidão
que se acompanha sempre da falta,
das marcas no coração.
Ser constantemente solapada
pela transitoriedade da coisa finita.
Sofrer,
consumir-se na dor
da vida que finda.
Não traz lucidez.
Tenta-se tornar eterno
o que é apenas fluidez.
Perder para a morte
e sentir-se desolada e impotente,
maltrata e consola.
Faz parecer que não dependeu da gente.
Não há conforto, no entanto,
quando perde-se para a vida.
Perde-se inclusive o consolo
de que não mereceu a partida.
04.09.01 TER 19:50.
03.09.04 SEX 17:41.