Inventário

Experimentar a perda desde menina.

História de muita ausência na vida.

Perder muito e desde sempre.

Às vezes de modo brusco.

Sem tempo pra despedida.

Ensaiar em vão os adeuses,

as juras, os longos olhares.

Tudo se vai de repente

restando dor e pasmo

na alma, no corpo, na mente.

Perder e perder sempre.

E ter medo

e sentir horror da próxima vez.

Ouvir o coração em fuga

repetir aturdido:

Talvez...

Trazer escondido no peito

um sentimento de solidão

que se acompanha sempre da falta,

das marcas no coração.

Ser constantemente solapada

pela transitoriedade da coisa finita.

Sofrer,

consumir-se na dor

da vida que finda.

Não traz lucidez.

Tenta-se tornar eterno

o que é apenas fluidez.

Perder para a morte

e sentir-se desolada e impotente,

maltrata e consola.

Faz parecer que não dependeu da gente.

Não há conforto, no entanto,

quando perde-se para a vida.

Perde-se inclusive o consolo

de que não mereceu a partida.

04.09.01 TER 19:50.

03.09.04 SEX 17:41.

Josely Margarida
Enviado por Josely Margarida em 23/08/2011
Reeditado em 09/07/2015
Código do texto: T3178063
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