PINTANDO MINHA AMADA
Dormes, Mulher, nesta hora extrema.
E vendo-te com zelo,
Como o pintor que pinta o seu modelo,
Eu faço-te um poema.
E dormes, com o abajur aceso.
Nos cetins, a face de princesa,
E teus cabelos longos estendidos...
Sobre esta cama, o corpo mal vestido.
E dormes exposta à frouxa luz.
Contorna meu olhar, teus seios nus,
Enormes. E dormes, e dormes...
Meu poema tenta retratar
A languidez do sono em teu olhar.
E por vezes me esqueço da pintura,
E fico a contemplar a criatura:
Parece não haver o que defina
Aquela silhueta tão divina.
Mas volto ao meu trabalho
Que pousa frente a mim:
Ainda faltam ali naquela tela
A flor de cabeceira e a cortina,
E um luar batendo na janela.
Faltam o olhar do artista absorto,
E as vestes que ainda encobrem o teu corpo.
Na cabeceira falta o abajur.
E falta a transparência que revela
Teu corpo seminu.