CONCÍLIO DO DESAMOR

Sinto teu cheiro

Teu sabor ligeiro

Teu corpo adentro como um grileiro

Não tenho a posse, mas me pertence...

Amo-te assim sem me esconder

Se me esconder a escuridão me vence!

Sempre como se tu estivesses em mim

Passageiro do teu campestre carmesim

Mas é ilusão como grama não é capim

Você é carnuda vestida de cetim

Que eu desnudo na emanação

És de outro coração

Tua coloração é preta pra minha visão

Ah! Que aflição

Voltar outras mil encarnações

Como sombra, cheguei tarde

Quantas admoestações ainda terá

Que passar pra encontrar esta alma

Que já buscou nas constelações cicatrizar sua ferida

Dentro de mim perdida na carne cingida

O dique das lágrimas

Põe-se a chorar como chuva serôdia

No final da tarde esposando teu ser...

Mais a mim amo-te platonicamente

Plastificada mente minha ilusão no teu ser

Resoluta mente minha mente, mente!

Dementes estão dentro desta abdicação

Nesta naufragada embarcação a nau

Meu personagem é torturado

São grilhões atabalhoados nos porões da perda

Quero-te e, no entanto outros sussurros adentram

Tua alma que a mim pertence!

Luto com todas as forças

Porque se quedar e dar-se é confessar a Deus

No entanto borrifo sangue no coração

E ele bombeia tua imagem

No oráculo de minha consciência

A resposta não brota

O silencio é reticente...

Não chega até o amor que não tenho

Faço um desenho no papel

O juiz é o céu

O que está ao teu lado involuntariamente me acusa

Tua recusa me condena!

Condenado estou na tua escada de Babel

E eu permaneço réu preso em tuas entranhas

Preciso de liberdade, mas é tarde algures

Agora sou como a semente sem a terra

Um baú sem seu tesouro!

Você faz parte do meu credo da minha rua

Como os dois pés precisam se equilibrar na gravidade

Tudo neste mundo gravita sobre duas forças

Não posso andar sozinho pela escuridão da rua

Se eu perder a tua luz volto pro mundo da lua!