Enquanto ela caminhava…
De forma irremediável em direcção à escuridão, eu não lhe podia dizer o contrário
Tinha simplesmente que a deixar ir, mais depressa do que nós, não lhe podia dizer “não”…
Limitei-me por isso a acompanhar o seu voo para o abismo
Sabendo que íamos no mesmo sentido
Nada restava, nada, mas ao passo que alguns de nós continuavam e continuariam a lutar
A maior parte deixou-se alienar, porque as coisas eram mesmo assim
E se enlouquecidos, não iriam ter um choque horrível quando chegasse mesmo o Fim…
Nada tínhamos, tudo se desfizera, e até mesmo o céu, o eterno céu, estava a um ponto do colapso final
Os felizardos abreviaram essa visão
Estavam já pois num estado
De não assumida, mas plena alienação…
Éramos pois meras sombras, a vaguear, naquilo que uma mente mais criativa chamaria certamente de “paisagem de pesadelo”
Tão assustadora
Que dela não conseguia ter medo
Optara de forma instintiva pela lucidez
E gostava de a ter a meu lado
De a sentir a meu lado
E ela estava
Mas é como se não estivesse
Gostava de a ouvir
De a sentir
Mas ela por ali de facto já não o estava
Olhei para ela com um misto de ternura e de horror
Enquanto ela caminhava…