Vidro Embaçado
Dentro de mim tem uma represa onde é proibido nadar, algumas vezes ela transborda e meu peito dói. Então eu escrevo meros versos e deixo extravassar como um dique que se rompe e arrasta tudo consigo e depois retorna a calmaria. Essa represa não tem água, tem amor...
Quando ele trancou a porta atrás de mim
E me perguntou se eu o amava
Com minha ingênua sinceridade eu disse sim
E baixei as pálpebras toda encabulada
A chuva insistente embaçava o vidro da janela
Parece que esperei a minha vida inteira por aquela noite especial e tão bela
Encostando sua fronte na minha com carinho
Me alertou que se eu quisesse ainda daria tempo de voltar atrás
Como resposta enlaçou sua nuca a meiga moça de Batatais
Trêmula toquei os botões da sua camisa
Se eu fizer alguma coisa errada por favor me avisa
Ele se deitou de costas naquele imenso leito
Me trazendo manhosa consigo bem rente ao peito
Amarrota meu vestido e deixa meus cabelos em completo desalinho
Da minha boca sai palavras desconexas
Como um mantra feito do misto de desejos e carinhos
Nessa noite ele colhe essa frágil flor
Com a experiência de um homem que primeiro retira os espinhos
E ela a moça que se torna mulher ao desabrochar por amor
Vejo sobre os ombros dele os pingos de chuva baterem na janela
Não conte a ninguém
Mas meus olhos ficaram rasos d'água
Quando nos meus braços ele sem querer deixa escapar o nome dela
Afundo nos seus cabelos as minhas trêmulas mãos
E fecho os olhos assim ele não poderá ler o que grita meu coração
Enquanto ele me jura de pés juntos que o que sentimos é só prazer
Eu prometo para mim mesma que logo vou esquecer
Mas a tempestade desaba assustadoramente do céu
Não é capaz de esconder a mão que desliza na vidraça molhada
Onde mesmo embaçada revela todo o romantismo e a paixão de Raquel
Ouço escassos transeuntes perambulando pela calçada
Entre quatro paredes fazemos amor e poesia no aconchego da madrugada
Digo eu te amo várias vezes sem conseguir me controlar
Uma, duas e quiça três
Por amor na sua boca perco toda a razão e a timidez
Nos seus braços me senti mulher pela primeira vez...