O GANHO DAS PERDAS
Um dia perdi o comando das diretrizes pessoais
E fui levado em vendavais, igual varridas tempestades
Perdi as grades que detinham meus instintos e temores irracionais
Tornando-me o mais morto dos imortais e o mais plebeu das majestades!
Um dia fui vendido á fuga inútil da escravidão
Com a força de um ancião, regado a lágrimas de menino
Riscado pelas linhas do destino e reescrito pela ilusão
Açoitado pela fascinação e administrado pelo desatino!
Um dia acordei desprovido de identidade, no leito do ego desfigurado
Vendo-me fraturado pela cura das realidades
Dividido de minhas duas metades, voando algemado
Um dia me perdi pra ser achado, unificado em indissolúveis dualidades!
Mas se perdi tamanhamente, então sou eu mero vivente, triste e vão?
Decerto grito que não e que a fortuna, no que perdi, hoje me achou
Se já não tenho tudo que ora já não sou, se toda perda é mal vilão
Algo maior ganhou meu coração, quando invadido por tão rico amor!
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Reinaldo Ribeiro - O Poeta do Amor