Correnteza
Moça na correnteza:
Ao me deixar levar pela correnteza,
sobre afiadas pedras fui arremessada,
e abriram-se as feridas adquiridas
ao longo da minha vida atribulada.
Sangrando, tento defender o ataque
de minhas memórias, piranhas malvadas,
enquanto o rio mais largo vai se tornando
e as margens cada vez mais afastadas.
Preciso respirar, estou me afogando...
Espírito das águas:
Abra os braços, deixe-se flutuar
ao sabor da correnteza do rio,
ligeira, te levará a algum lugar
No rio largo, aflito barqueiro
está atento a te procurar
Deixa a correnteza lavar tuas feridas
o barqueiro certamente te salvará
e as piranhas do rio, memórias sofridas
no rio para sempre irão ficar.
Barqueiro:
Moça do rio, de feridas abertas
vem comigo em direção ao poente
Lá, na minha casinha pequena
basta carinho e amor somente
para te curar e te fazer esquecer
todas as feridas de uma alma doente
Vem, deixa que eu cure de uma vez
toda essa dor em ti insistente
e devolva ao teu rosto sofrido
a beleza de um olhar reluzente.