Queria...
Queria
G. de Araújo Jorge
Queria que seguíssemos os dois
Sempre unidos assim,
Na dor e na alegria a caminhar,
- Como dois lábios que sorriem juntos,
Ou dois olhos que, juntos
E só juntos,
É que podem chorar!
Queria
E entretanto, como a noite e o dia,
- Quando eu chego, tu partes,
Quando voltas, não posso mais te ver...
E vivemos os dois, eternamente assim,
Ou das horas tristonhas de algum poente,
Ou das horas furtivas de um nascer...
Se o destino não quer, que fazer? Não nascemos
Para seguir os dois por um mesmo caminho,
- Tu deves andar só,
Eu devo andar sozinho;
Nem podes me culpar,
Nem te culpo nada,
E temos que viver avaramente assim
Das migalhas de amor de cada encruzilhada...
Às vezes penso para mim,
(e aprendi a pensar desde menino)
- Como é estranho o destino!
Nossas vidas distantes... E, no entanto outras vidas
Que ansiariam talvez estar sozinhas
E caminhar a sós,
Seguem juntas e presas, como linhas
Amarradas por nós...