Amor de cabeça

Dias e noites em claro ficava

inutilmente a soprar

buscando

as nuvens

dispersar

e com elas o turvar

em seu pensamento

esperneava na tentativa

tola de descobrir

os pés, as mãos e

algo que fosse capaz

de fazer de um amor de pele

algo mais

parecido com alma

talvez se o comesse

se abocanhasse com calma

um grande e suculento

naco de carne e tudo

mais que na boca viesse

além das tantas

provas que lhe eram

tão gentilmente ofertadas

talvez se o deixasse

aprofundar-se

escorrendo por meio

dos poros

mas não sabia

se eram eles os orifícios

adequados

a tamanha empreitada

talvez se mantivesse o corpo

invertido

perpendicular ao solo

e deixasse à cabeça

vir tudo aquilo que sentia

espalhado pelos membros

e fizesse de tudo um monte

deixando a dor bem no topo

da cabeça pairada no chão

com os ideais escorrendo

pelos longos cabelos

talvez pudesse fazer dos seus

algo são, mas não sabia sentir

-nem sequer sabia

se queria saber

mudar de querer

um amor de cabeça

talvez se da pele limpasse

suas marcas

e cheiros

e tantos jeitos

mas não conhecia ela um

solvente para o amor

nem a água, nem o álcool

nem o suor, nem o vapor

nem a saliva embebida dele

tudo junto

faria reforçar aquilo

que ela há tanto sentia

e sentia e sabia

e sentia e temia

que não mais pudesse ser só

chamado de amor

e que nome dar então a algo

assim que não lhe vem à cabeça?