MARIA...
 
Caminhava pela rua chutando lata
Enquanto na lata do lixo se via...
Passava o carroceiro, mas a solidão ficava.
Passava a moça bonita, mais a feiúra ficava.
Passava a ilusão a tiracolo, mas a dor não passava.
Caminhava pela rua alinhavando “ontens”
Como que querendo costurar uma camisa de “hojes”
Como que querendo temer as vestes do seu futuro.
Caminhando a esmo eis que a igreja se abre e ele entra
Dentro reza e se encontra com sua alma lisonjeira
Pensa consigo que a vida é bela
E que não se devem jogar sonhos na lixeira.
Pai nosso que estais nos céus
Tirai o véu que esconde a dor derradeira...
Posto que dor de amor é de cada um
Como é a sombra ilusória do amor perdido.
No altar há sombra lúgubre cultivando silêncio
Enquanto num cantinho
Tento calar meus barulhos por entre
Um pai nosso e uma ave Maria. Maria
Seu nome era Maria. No altar a santa era Maria.
No meu peito meu demônio era Maria...
Ao sair da igreja, rumoreja ventania e me atormenta:
Seria Maria que no vento vinha me buscar?
Ilusão de poeta que ainda se encanta ao ver o Mar... Ria.