A Lua e eu
Diante do espelho da fama
O poeta chora e até esperneia
Seus olhos tentam aproximar-se
Do amor que longe vagueia.
Da lua que volta da ladeira
Cacheia triste a devassidão
O poeta, louco alucinado, então,
Tateia a tundá da paixão.
Entre os balões transparentes.
Cintilam pelo amarelo doirado
O poeta, de visão entorpecida.
Descerra a touca do globo lunar.
Em receoso brilho e embriaguez
Pulsa a ulceração e nudez pura
O poeta então se lava em timidez
De descoramento e brandura.
Cáustica e toda aflita vagueia
A lua altera-se a figura geométrica
O surgimento pausado do êxtase
Acentua o espigão da lua, poeta!
Afagam-lhe os braços e se aquieta
E o ventre que uma vez no mês menstrua
A lua se recurva qual lindo estojo
Num desvario de amor e devassidão certa.
De improviso o encanto acrescenta
Em frisson que persistem calmos
A lua modifica-se a outra parte
E mostra-se de frente, despida alma.
Da cavidade vem à turgescência gostosa
De estrelas e nuvem desfeita na hora
No oceano acaricia a aura mansa e ditosa
Salgada fragrância da lua e da aurora
E cresce a lua, no fascínio, desenvolve-se.
Dilata-se, sublima-se e estufa...
O poeta em silencio põe-se a rezar
Olhando-a na beleza da lonjura.
Dome a lua, em seguida o dia amanhece...
E diminui-se e em paz se vai...
O poeta desvanece-se quieto demais
No cantos e nas belas plumas enrolado
E tudo passa a ser loucura tranqüila
No seu mosteiro de despeito apagado.